CRÍTICA À SUPREMACIA DA VISÃO
Espiritualidade

CRÍTICA À SUPREMACIA DA VISÃO


Vivemos imersos em uma cultura da visualidade. É o excesso do sentido da visão, mais do que qualquer outro, que define a relação de nosso corpo com o mundo. Se uma empresa quer fazer aparecer seu produto (ainda que ele seja direcionado ao nosso paladar, como um chocolate), ela prepara um comercial na TV para ser visto – não ouvido, cheirado, tocado ou degustado. Publicitários sabem que é a força da imagem que movimenta nosso desejo.
Por tal supervalorização, a visão é nosso sentido mais desenvolvido e aquele que retiraria de nós a maior porção de mundo em caso de perda. Sem qual sentido você viveria melhor? Visão ou olfato? Em qual dos cinco sentidos sua namorada é mais presente para você? Por qual sentido seu marido a ama mais? Quando você lembra de alguém, qual o sentido predominante?
Em um treinamento do SESC SP, o professor Norval Baitello (doutor em comunicação e semiótica pela Universidade de Berlim) falou de outras culturas em que o sentido predominante não é a visão. Em uma delas, o cumprimento “Tudo bem com você?” significa algo assim: “Como está seu cheiro hoje?”. Para ele, visão e audição são os sentidos da distância, enquanto tato, gustação e olfato são os sentidos da proximidade, da intimidade.
De fato, para um relacionamento, cheirar é muito mais importante do que ver, pois podemos ver qualquer um, mas cheirar apenas aquele que nos é próximo. A visão não define amor algum: vemos bundas na Playboy, decotes à distância, mulheres na webcam, homens estranhos ao redor. Se a visão predomina, é porque não há relação íntima. A audição também: conversamos por telefone ou Skype, ouvimos milhares de vozes estranhas em um bar… Nossa visão e audição são preenchidas por muitos com os quais não temos quase nenhuma relação.
Com nosso parceiro amoroso, no entanto, a visão e audição perdem poder. O outro está perto demais para ser visto, silencioso demais para ser ouvido. Antes ela era um quadril perfeito, costas lindas, ombros, colo e cabelos inebriantes. Sua beleza estava nos traços. Agora, no escuro do quarto, seus limites se misturam e é precisamente isto que a faz bonita. Seu quadril não é mais visto. É tocado, cheirado, empurrado, puxado, lambido, mordido. Antes ele se destacava por estar separado, pela impositiva linguagem visual, das costas e das pernas. Agora, o quadril se desdobra e nos leva às pernas e às costas. Ele é um prolongamento do prolongamento. Antes, o corpo tinha começo e fim, dos pés à cabeça, distinto do chão e do local onde se movia. Agora, o corpo é infinito: assim que o entendemos, assim que o capturamos 100%, ele muda de posição e logo o perdemos novamente. Sua mulher se estende diagonalmente na cama, você se deita em cima, tenta envolvê-la com seu corpo e descobre que, sem a visão, é impossível tocar de uma só vez a extensão completa de seu corpo. Na verdade, nem a visão consegue isso, já que é impossível ter uma perspectiva de 360º.
No dia seguinte, ela não nos parecerá bela por imagens na memória. Sua beleza estará no cheiro dos dedos e unhas (aquele que o sabonete parece ignorar e você quer que ele continue ignorando), no relevo da língua, no gosto alterado da saliva, na lembrança de como o corpo dela deslizava pelo seu – sabe aquela aura que o outro deixa a um centímetro de nossa pele?
Se nós, como sociedade, escolhemos colocar o sentido da visão acima de todos os outros, não deveríamos reclamar da falta de profundidade e criatividade em incontáveis relacionamentos. Ora, o sentido que mais estimulamos, a capacidade que mais treinamos, é justamente aquela que usamos apenas até o ponto em que tocamos nosso parceiro, até o ponto em que a relação começa.
Mais ainda, a visão é sentido da dualidade: sujeito aqui, objeto lá; olhos de um lado, paisagem de outra. Em todos os outros, objeto e sujeito se confundem. Onde está mesmo o som dessa música? Aqui dentro ou fora? Enquanto você coloca sua mão em mim, que parte do toque é sua e que parte é minha? Com um morango na boca, sou capaz de saber o que é morango, o que é língua e o que é gosto de morango? Seu cheiro é isso que vem de você ou isso que parece que brota de dentro de mim? Na verdade, a visão também funciona de modo não-dual, mas por ela é muito mais complicado vivenciar a não-dualidade. Sua ilusão de dualidade (a sensação de que o mundo está lá fora), é tão persistente que nos leva a acreditar que a cor, por exemplo, é uma propriedade dos objetos.
A visão é também o sentido pelo qual medimos a beleza: o outro é belo ou não na medida em que sua imagem é bela. Nossa experiência estética do mundo, originalmente ampla e proporcionada por cinco vias, se restringiu de tal forma que atualmente sequer usamos nariz, pele, ouvido e língua para responder à pergunta “E aí? Bonito ele?”. Usamos apenas os olhos! Esquecemos que aquele homem que parece belo aos nossos olhos talvez nos pareça horrível pelo nariz, pele, ouvido e língua. E aquela mulher que nos excita pela visão talvez não seja aprovada por nossa pele.



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