PSICOLOGIA DA RELIGIÃO
Espiritualidade

PSICOLOGIA DA RELIGIÃO


Uma sinópse explicativa e conclusiva sobre o assunto com referências biográficas

Uma das perguntas mais antigas e debatidas na religião é a relação entre a revelação, a experiência religiosa, ou as práticas religiosas, e a consciência, ou a natureza humana. A forma mais moderna, ou atual, desta questão é a seguinte: “O ser humano tem acesso direto a Deus, ao Sagrado, ou ao Infinito, ou estamos lidando, exclusivamente, com os conteúdos da consciência humana?”
Outra maneira de colocar esta mesma pergunta é a seguinte:
“A experiência religiosa é de Deus, do Infinito, do Sagrado, ou tem sua base exclusivamente na experiência humana?” A questão de quem pode estudar a experiência religiosa e o comportamento religioso, usando quais metodologias ou óticas. Começou com o advento da psicologia moderna, no fim do século 19. Antes disso, a resposta era quase absoluta: a experiência religiosa vem de Deus, ou da revelação de Deus, e as práticas religiosas expressam essa experiência direta. O acesso à revelação de Deus não era, geralmente, discutido. A Bíblia era considerada, de alguma forma, a revelação de Deus e as experiências místicas, ou religiosas, eram consideradas como tendo sua fonte na ação de Deus, a revelação. Isso é, com certeza, uma supersimplificação, mas aponta uma forte tendência teológica.
Com o advento do estudo moderno da psicologia e da função da linguagem no comportamento humano, tudo isso mudou, por causa da presença de novos métodos de estudar a religião, por mais da psicologia.
A frase “experiência religiosa” está sendo usada no seu contexto mais especificamente “religioso”. Desse modo, a “experiência religiosa” refere-se à experiência da realidade, da presença e da atividade de um Ser Supremo, do Sagrado, ou de Deus. Ou, em outras palavras, a experiência religiosa é a resposta do indivíduo, primariamente em termos cognitivos e emocionais, a qualquer coisa que ele considera divina e essa experiência é a base das práticas religiosas. Nesse sentido, a “experiência religiosa” refere-se ao encontro, momentâneo ou na totalidade de vida com “Deus” e as práticas religiosas; expressam ou incorporam esta experiência direta. O tipo, ou o conteúdo destas experiências, varia enormemente e, conseqüentemente, suas expressões em práticas religiosas; o elemento que define ou delimita a experiência religiosa é a presença, ou a experiência do Divino.

Dentro do cristianismo, a experiência do Divino, de Deus, é considerada como tendo sua fonte na revelação de um Deus pessoal. Um Deus que está se revelando. Mas, até hoje existem pelo menos duas escolas de pensamento a respeito da revelação, ou da natureza da experiência religiosa. A escola clássica acredita que temos acesso à revelação de Deus. Esse acesso é bastante limitado e prejudicado por causa de nossa natureza imperfeita, ou pecaminosa; contudo, de qualquer forma há a possibilidade de entrarmos em contato com ou recebermos a revelação de Deus. Esse contato com Deus pode ser via experiências estáticas, místicas, ou na nossa vida dia a dia. Este contato pode ser via Bíblia, o culto, a natureza, as relações humanas, ou quase qualquer tipo de “experiência”. Este entendimento da “experiência de Deus” pode incluir os cinco sentidos, ver, ouvir, gostar, tocar e sentir cheiro, mas geralmente implica em experiências além desses sentidos biológicos.
Assim, a “experiência religiosa” é uma consciência direta e imediata daquilo que transcende o intelecto e vontade, sujeito e objeto. Segundo Friedrich Schleiermacher a “experiência religiosa” é a experiência de dependência absoluta. Para Rudolf Otto, a “experiência religiosa” é a experiência do Misterium Tremendum et Fascinans, o Mistério Tremendo e Fascinante.
Para os dois, a “experiência religiosa” é um fenômeno universal. Dentro dessa perspectiva, mais para Otto do que para Schleiermacher, a experiência religiosa é qualitativamente única. Vem do além da experiência humana.
Em termos de Schleiermacher é interessante notar que, enquanto ele tentava se distanciar de qualquer discussão sobre a “realidade” ou “existência” do objeto chamado Deus, ele, como Otto, deixava, às vezes, a nítida impressão de que a experiência de Deus é a experiência de uma realidade. Assim os dois fogem da descrição fenomenológica.
A outra escola de pensamento a respeito da “experiência religiosa” é que ela vem da, ou tem sua base, na experiência humana. Nessa perspectiva, a Teologia não é a “Ciência de Deus” baseada na revelação, ou na experiência direta, de Deus. A Teologia é theoslogos, linguagem, ou palavras sobre Deus. A Teologia não tem sua base em alguma experiência religiosa pré-linguística ou pré-cognitiva de Deus. Segundo esta linha de pensamento, os seres humanos não têm acesso direto, ou puro, a Deus.

Toda a experiência humana é mediada por palavras, linguagem, ou experiências que existem e funcionam dentro de contextos culturais complexos. Não existe a experiência pura ou, pelo menos, não temos acesso à experiência pura. A experiência e a linguagem estão sempre entrelaçadas. A experiência é sempre formulada e transmitida por palavras ou linguagem. O sentido básico de termos religiosos, ou da experiência religiosa, não é derivado da experiência crua ou direta, mas dado por, ou formulado com, e na linguagem e nas imagens que temos aprendido. Nesse entendimento, a Teologia é gramática. Como em toda a gramática, este processo envolve o esforço de entender como a linguagem é usada e as regras que a governam, a fim de distinguir entre a
prática adequada e inadequada, ou clara e obscura. Dentro dessa ótica, a Teologia é o estudo crítico da linguagem sobre “Deus”, usada por uma comunidade, ou comunidades, a fim de não apenas descrever como as pessoas falam sobre, ou experimentam, Deus, mas, também, descobrir e entender as estruturas, regras e a gramática que governam esta linguagem. A análise teológica procura, também, distinguir a melhor e a pior forma de expressão e definir a fala, mais ou menos adequada, sobre Deus, a fim de informar a práxis. Nesse sentido ou contexto não há conflito entre a psicologia e a religião, ou as práticas ou os comportamentos religiosos.

Psicologia e práticas religiosas

Em termos da psicologia e das práticas religiosas, existem duas perspectivas, ou abordagens clássicas, a respeito do estudo da religião: o fenomenológico e o explicativo. O fenomenológico é o estudo ou a descrição dos domportamentos religiosos, seus significados e suas funções na vida de indivíduos e grupos. Esta abordagem foi profundamente influenciada pelo sociólogo Émile Durkheim e seu entendimento da religião como um fenômeno social. O fundador do estudo fenomenológico da religião, de uma perspectiva psicológica, foi Granville Stanley Hall. Ele estudou a psicologia da conversão e influenciou uma geração de estudos psicológicos sobre a religião com suas pesquisas, nos Estados Unidos. Em geral, essa abordagem começou com uma única preocupação, a descrição de comportamentos religiosos, sem nenhuma preocupação com a função ou o sentido da religião. Atualmente, a psicologia da religião estuda muito mais a função, ou o sentido da religião, da dimensão pessoal, e não se restringe apenas à descrição das práticas religiosas. A perspectiva explicativa vem do estudo da personalidade e quer entender e interpretar a religião em termos de suas funções nas estruturas da psique. Essa linha de pesquisa, ou perspectiva, começou com as teorias de Freud e Jung sobre as relações entre a personalidade e a religião, ou as práticas e crenças religiosas. Em geral, estas teorias iniciais forneceram explicações reducionistas e naturalísticas da religião. Por exemplo, em Freud, a religião ou as experiências religiosas são apenas manifestações dos conteúdos do inconsciente, ou, mais especificamente, a manifestação na vida consciente, de conflitos inconscientes que começaram nas relações entre a criança e seus pais. Assim, a religião é simplesmente e apenas uma projeção de conflitos não resolvidos. Há uma grande diversidade de outras teorias de personalidade e religiosidade, mas, pelo menos nos clássicos, a tendência é um certo reducionismo e naturalismo que quer explicar a religião somente em termos de dinâmicas psicológicas. Atualmente, as teorias da personalidade aceitam, em geral, a idéia de que a experiência de Deus, e do comportamento religioso, são “normais” e têm, ou podem ter uma função positiva nas estruturas da personalidade. Um exemplo dessa idéia é a pesquisas de Ana-Maria Rizzuto sobre o nascimento do Deus vivo, a formação de imagens de Deus, na personalidade. A psicologia da religião, também, está participando de diversos tipos de diálogo trans-disciplinar, com a teologia e a ética, em termos da religiosidade “salugênica” e “patogênica”, e como as pessoas e os grupos usam a religiosidade a fim de resolver problemas e lidar com crises e traumas. Essa discussão, sem dúvida, é complexa e polêmica, mas geralmente não entra a idéia de que a religião é um tipo de neurose ou sinal de falta de desenvolvimento adequado da personalidade. A publicação mais recente nesta área de pesquisa é de Kenneth Pargament, The Psychology of Religion and Coping. New York, Guilford, 1997.
Este livro trata de diversos temas relacionados ao uso da religião como recurso no meio de crises ou traumas. O texto usa como base teórica, as idéias de Erich Fromm em termos da distinção entre a religião autoritária e a humanista, ou entre a religião que ajuda o ser humano na sua atualização plena, e aquele que promove a fuga da responsabilidade e maturidade. O livro também mostra a tendência atual na psicologia da religião de entender a religião como uma maneira de construir e manter significado. Assim, a psicologia da religião está saindo das tendências históricas de apenas descrever comportamentos religiosos, sem identificar e discutir suas funções individuais e sociais.

Talvez a discussão mais interessante dentro da psicologia da religião trate das discussões do desenvolvimento da religião e suas relações com a personalidade, a cognição e as interações psicossociais. No contexto norte americano, o autor mais ativo nessa discussão é James Fowler.
Fowler estuda o desenvolvimento cognitivo e psicossocial da pessoa, ou do ego, e suas relações com tipos, ou estágios, de fé, ou construções religiosas.
Uma idéia central no pensamento de Fowler é que a fé faz parte da consciência humana. A fé e a personalidade desenvolvem-se juntas. Não são a mesma coisa, mas são entrelaçadas. Fowler entende a fé como a experiência humana de lealdade e confiança. A fé é essencialmente o processo universal humano de construir significado, que é uma parte integrante do desenvolvimento do ego, ou da personalidade. A fé é a disposição total da pessoa a um definitivo referencial, ou centro de valor, que dá poder, apoio, orientação, coragem e esperança às nossas vidas e nos unem em comunidades de fé.



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