Parece-me que o problema da responsabilidade é insolúvel ou, pelo menos, está por resolver por razões idênticas às do problema da autonomia. Responsabilizamo-nos moralmente a nós mesmos e aos outros por, no mínimo, algumas ações, quando as observamos do interior; mas não podemos dar conta do que teria de ser verdade para justificar tal juízo. Quando as pessoas são vistas como partes do mundo, determinadas ou não, parece não haver maneira de lhes imputar responsabilidade pelo que fazem. Tudo acerca delas, incluindo, finalmente, as suas próprias ações, parece confundir-se com o ambiente sobre o qual não têm controle. E quando, então, voltamos a considerar as ações do ponto de vista interior, não somos capazes de dar sentido, através de um exame minucioso, à idéia de que o que as pessoas fazem depende, em última instância, delas. E, no entanto, continuamos a comparar o que elas fazem com as alternativas que rejeitam, e a louvá-las ou censurá-las por isso.
As espécies de coisas pelas quais ajuizamos os outros variam. Não condenamos uma cascavel por coisa alguma, e um gato por nada ou quase nada. A nossa compreensão das suas ações, e mesmo do seu ponto de vista, afasta-nos demasiado deles para permitir seja que juízo for do que tenham feito. Tudo o que podemos fazer é compreender por que fizeram o que fizeram, e ficarmos felizes ou infelizes com isso. Relativamente às crianças, as possibilidades de juízo moral são consideravelmente maiores, mas ainda não podemos deslocar-nos integralmente para o seu ponto de vista de maneira a pensar no que deveriam fazer, contrariamente ao que seria requerido de um adulto, em circunstâncias semelhantes. Idênticos limites se aplicam a juízos da inteligência ou da estupidez de outras pessoas. Não se cometeu um erro estúpido se falhou a capacidade de pensamento necessária para tirar a conclusão correta a partir da informação disponível. Quanto maiores as capacidades intelectuais, tanto maiores as oportunidades quer para a estupidez, quer para a inteligência. Sucede o mesmo relativamente ao bem e ao mal. Uma criança de cinco anos pode ser censurada por ter atirado o gato pela janela, mas não por uma grosseira falta de tato.
O desaparecimento filosófico de toda a responsabilidade é uma extensão deste segundo tipo de dissociação. A essência de um juízo de responsabilidade é uma comparação interior com alternativas — escolhas que o agente não fez, que contrastamos com as que fez, para melhor ou para pior. Em juízos vulgares de responsabilidade, uma visão objetiva do agente pode levar-nos a alterar a nossa suposição acerca de que alternativas são aceitáveis, em termos de tal comparação. Mesmo alternativas que pareciam na altura disponíveis ao agente podem parecer-nos sem possibilidades de êxito, à medida que a nossa visão exterior dele se torna mais completa. "De um ponto de vista que está ao nosso alcance, eles podem subitamente parecer depender de uma ilusão um esquecimento do fato de que somos apenas partes do mundo, e as nossas vidas apenas partes da sua história". Como escreveu sabiamente, Thomas Nagel.