SEGURANÇA DA CONFIANÇA
Espiritualidade

SEGURANÇA DA CONFIANÇA



Segurança da Confiança

Dra. Cristiane Ribeiro Assis

No livro A Auto-Estima do seu Filho, a psicopedagoga Dorothy C. Briggs defende que o amor estimulante, ferramenta fundamental para a educação dos filhos, é composto de encontros autênticos e segurança psicológica. Neste mês e nos próximos, falaremos sobre os seis tipos de segurança que permitem aos pais oferecer aos seus filhos a verdadeira segurança psicológica.

Em geral, não temos consciência de que as neuroses surgem quando as crianças se sentem inseguras. Preocupamo-nos, na maioria das vezes, com a segurança material (vestuário, alimento, plano de saúde, etc.) e esquecemos que o mais importante é a segurança psicológica, que irá acompanhá-las pelo resto de suas vidas.

A base da confiança é a sinceridade. Lembramos que nenhum pai ou mãe pode oferecer um clima permanente de segurança para todos os filhos, já que pais perfeitos não existem. Mas a atenção com relação à importância desse aspecto pode ajudar muito no desenvolvimento da autoconfiança de seu filho.

É fundamental que os pais estejam tranqüilos e seguros para poderem passar essa mensagem aos seus filhos. Portanto, recomendamos que prestem atenção às suas próprias inquietações mentais e tentem resolvê-las. Caso contrário, a criança perceberá que há algo errado com eles. Pior ainda, acreditará que ela é o fator causador desse incômodo.

Como exemplo, Dorothy Briggs conta-nos o caso do menino Bobby, que, ao voltar da escola, encontra a mãe lavando o chão com violência, olhos arregalados e maxilares cerrados. Percebendo que algo estava errado, pergunta:

? O que houve, mamãe?
? Nada, Bobby ? responde secamente.

Ele conhece a mãe o suficiente para saber que sua resposta não é verdadeira. Prefere não dizer mais nada. Porém, sai pensando: ?Meu Deus, será que ela descobriu aquele sapo que deixei embaixo da minha cama? Será que está com raiva por causa de outra coisa que eu fiz??

A confusão de Bobby é normal, já que, apesar de sua mãe falar que estava tudo bem, a mensagem transmitida por seu corpo (não verbal) diz justamente o contrário. E isso é algo inevitável. O que sentimos se manifesta em nosso corpo, sem que tenhamos muito controle sobre isso. Sempre que as palavras contrariam a expressão corporal, a criança fica confusa e tenta adivinhar o que aconteceu. Inclusive, dá mais importância ao que é demonstrado do que ao que é dito. E, dentro da sua realidade, sempre vai achar que é a causa do problema.

Na verdade, a mãe de Bobby estava nervosa com uma discussão que acabara de ter com o dono do supermercado, para o qual estava devendo muito dinheiro.

Tentando não preocupar seu filho, ela preferiu dizer que estava tudo bem, apesar de não estar. Sem perceber, acabou deixando-o triste e ansioso. Isso não quer dizer que os pais devam contar tudo o que está acontecendo aos seus filhos. Alguns problemas e assuntos de adultos devem permanecer dessa forma.

Mas a mãe de Bobby poderia ter dito: ?Meu filho, estou preocupada com um problema de gente grande que não quero contar a você.? Agora que as palavras e a expressão corporal são congruentes, Bobby não se sente confuso com as contradições.

Por outro lado, suponhamos que ela realmente tenha encontrado o sapo embaixo da cama do menino, mas sinta que vem implicando demais com ele ultimamente. Uma parte dela quer expressar sua frustração, mas outra sente que seria melhor não dizer nada.

Se ela disser: ?Prefiro não falar sobre o que está me preocupando?, ela corre o risco de acumular preocupações que podem explodir mais tarde com um incidente sem importância. A alternativa é a sinceridade com os dois sentimentos. Ela poderia dizer: ?Bobby, encontrei o seu sapo e francamente estou aborrecida porque você não seguiu as regras de nossa família. Mas ultimamente, ao que parece, venho implicando muito com você, e um lado meu não quer falar sobre o sapo.?

Compartilhar os sentimentos conflitantes é parte da sinceridade. Como as crianças são extremamente sensíveis aos nossos sentimentos profundos, mostrar-lhes apenas parte do que sentimos também pode causar confusão. Outra situação complicada para os pequenos ocorre quando enviamos mensagens moderadas para disfarçar sentimentos fortes. Isso também gera insegurança neles. As crianças percebem essa discrepância e acabam concluindo que não é certo sentir com intensidade e que se seus sentimentos não forem superficiais ela deve fingir que são. Devemos lembrar que a pessoa dotada de auto-estima não precisa negar o que sente. A aceitação de si mesma lhe dá segurança de ser aberta, pois não vive em busca da aprovação dos outros.

Muitos pais acreditam que, se demonstrarem aos seus filhos seus sentimentos, poderão destruir a imagem de pais perfeitos e com isso perder o respeito. Contudo, essa aparência ?perfeita? de pai ou mãe é, com freqüência, um disfarce. As crianças precisam de contato com pessoas reais e não com robôs mascarados, agindo segundo um programa. O ser humano pode ter todo tipo de sentimento, sem necessariamente ser menos digno ou forte. É mais provável que o respeito por quem é sincero seja ainda maior.

O clima de confiança transmite ao filho a seguinte mensagem: ?Pode contar comigo para ajudá-lo e satisfazer suas necessidades. Eu não sou perfeito, mas você pode confiar em minha sinceridade ? até mesmo em relação às minhas imperfeições. Você pode ser imperfeito também, e JUNTOS podemos eliminar nossas deficiências. Se eu lhe oferecer algo menos do que a sinceridade adequada, estarei em falta com você. As máscaras não são boas porque nos separam. Você está seguro comigo.?

Artigo: Segurança da Confiança
Matéria Publicada no Site da Folha Espírita em Outubro de 2008 - Ed. Número 410.
Por: Dra. Cristiane Ribeiro Assis (AME-SP)-(É Ginecologista e Obstetra, com Especialização em Medicina Fetal). [email protected] 

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