Espiritualidade
EM BUSCA DO GÊNIO DA LÂMPADA
Lampejos intelectuais não aparecem do nada, idéias criativas são resultado de um processo cognitivo complexo. Passo a passo pesquisadores do cérebro e psicólogos desvendam o mistério do pensamento criativo.
Ulrich Kraft
Faz quatro horas que estou diante do teclado, quebrando a cabeça; faço pausas para o café, circulo pelo escritório, o olhar vagueia. Ao meu lado, pilhas de material para a pesquisa: informação de sobra para o artigo que em três dias, no máximo, precisa estar na mesa do redator-chefe. Até agora, apenas uma palavra no monitor: criatividade - o assunto do texto. E quanto mais remôo as idéias, menos tenho para pôr no papel!
Criatividade (do latim, creatio = criação) é a capacidade de pensar produtivamente à revelia das regras, é criar coisas novas combinando de maneira inusitada o saber já disponível, diz o dicionário. Em Dirk, meu colega de escritório, essa força criadora sobra. No momento ele faz ilustrações para a campanha publicitária do novo modelo de uma fábrica de automóveis; a cada meia hora produz um novo esboço, todos originais, divertidos - e às vezes até mesmo geniais. Eu, pelo contrário, estou novamente olhando para o nada, à procura de uma idéia luminosa. Será que me falta criatividade para escrever sobre a criatividade? Talvez meu cérebro não sirva para se desviar das trilhas de pensamento pisadas e repisadas por tantos outros, talvez jamais consiga levantar vôo e percorrer novas rotas no espaço do espírito altaneiro... Oras, o que é que Picasso, Einstein, Goethe e o colega Dirk têm que eu não tenho?
O segredo das cabeças geniais já ocupava os cientistas no início do século XIX, em especial o médico austríaco Franz Joseph Gall (1758-1828). Ele estava convicto de que o espírito criativo teria de se manifestar em algum lugar no cérebro de quem o detivesse, de modo que seria possível esquadrinhá-lo com base na forma, sulcos, circunvoluções e peso do órgão do pensamento. Mas a tese de Gall era comprovadamente um erro: a confraria dos chamados frenólogos jamais descobriu o abaulamento craniano que identificasse o gênio, e a massa uniforme de células cinzentas nada tem a dizer sobre as próprias qualidades.
Duzentos anos mais tarde o tema criatividade parece mais atual que nunca. Líderes empresariais e políticos exigem soluções inovadoras para problemas como o desemprego em massa e o iminente colapso do sistema previdenciário. As empresas enviam seus funcionários a workshops de criatividade, profissões criativas como designer ou músico conquistam a preferência, mesmo em relação a médicos e advogados, e nas livrarias perde-se a conta dos livros de conselhos e treinamento em áreas ligadas à criação.
Em nossa época, a pesquisa sobre a criatividade é um domínio dos psicólogos. Não é de surpreender, afinal o dom de criar coisas novas está entre as melhores qualidades do comportamento humano. Desde a invenção do fogo, da roda e da imprensa, até a penicilina e a fissão nuclear - nosso desenvolvimento evolutivo, da idade da pedra até o século XXI, só foi possível graças a um fluxo inesgotável de lampejos criativos do intelecto. E onde têm origem todas essas idéias? No cérebro!
Apesar disso, só nos últimos anos os psicólogos vêm recebendo apoio das neurociências. Com auxílio de procedimentos como a tomografia funcional de ressonância magnética (TFRM) e a eletroencefalografia (EEG), pesquisadores tentam descobrir em que lugar na rede de centenas de bilhões de células nervosas estala a centelha da inspiração e por que razão é tão fácil para algumas pessoas produzir idéias geniais em série. Além disso, informações valiosas sobre os mecanismos neurais relacionados a processos criativos do pensamento procedem de pacientes que, por causa de danos no cérebro, ou desenvolveram talentos criativos extraordinários, ou perderam os que tinham.
Treinando a criatividade
Mesmo que isso não ajude muito a resolver minha falta de inventividade, os resultados das pesquisas trazem em essência algum consolo e prometem esperanças para o futuro. Pois criatividade não é um dom dos deuses e pode, isso sim, ser estimulada e treinada. Isso não significa que haja em cada pessoa um gênio adormecido; mas o pensamento criativo, como muitos outros processos criativos, segue regras definidas. Nesse ponto os cientistas estão amplamente de acordo: é possível criar as condições básicas necessárias para se aproveitar ao máximo o potencial criativo de cada um, bastando, para isso, mudanças na postura e nas "condições circundantes" que se oferecem. E o que está em questão, de início, são coisas aparentemente muito simples: curiosidade, a vontade de surpreender-se, a coragem de derrubar certas muralhas intelectuais e a confiança em ser capaz.
Na opinião de Steven M. Smith, do Grupo de Pesquisa em Cognição Criativa da Universidade Texas A&M, é principalmente a última qualidade que faz falta a muitas pessoas. "O pensamento criativo é a norma em qualquer ser humano e pode ser observado em quase todas as atividades mentais", explica. Basta ver a facilidade com que sempre produzimos frases novas e sensatas em uma conversa. Com essa constatação, já não resta dúvida de que o cérebro de cada um é essencialmente criativo.
Uma alternativa ao assento ejetável
Mas por que o "motor mental da criatividade" - segundo a designação de Smith para o órgão do pensamento - para alguns está em atividade máxima permanente, enquanto outros lutam dias a fio por um pouco de inspiração? Em todo caso, a inteligência em sentido convencional parece não ser o critério decisivo. Alguns dos primeiros a perceber tal coisa foram os militares americanos. Na II Guerra Mundial, a Força Aérea dos Estados Unidos saiu em busca de pilotos de combate que se mostrassem capazes de encontrar soluções inusitadas, também em situações de stress. Em uma emergência, por exemplo, esses candidatos não deveriam simplesmente acionar o assento ejetor, mas encontrar uma possibilidade menos esquemática de salvar a própria vida e a aeronave. Na seleção foi usado primeiro o teste clássico de inteligência. Mas os militares logo notaram que esse método não era eficiente para encontrar os pilotos criativos que procuravam. Um quociente de inteligência (QI) alto não é de grande serventia quando se trata de resolver problemas que exijam soluções fora do comum.
Isso também havia chamado a atenção do psicólogo americano Joy Paul Guilford (1897-1987). Ele observou que a inteligência, com testes bem elaborados, pode ser mensurada de maneira relativamente confiável, mas que o resultado não reflete a aptidão cognitiva da pessoa como um todo. Sob tal ponto de partida, ele desenvolveu no final dos anos 40 um modelo de entendimento humano que serviu de fundamento à pesquisa moderna sobre a criatividade. O ponto decisivo na concepção de Guilford foi a distinção entre pensamento convergente e divergente.
O pensamento convergente visa diretamente a uma única possibilidade correta de solução para determinado problema. Melhor exemplo dele são os famosos problemas matemáticos do tipo "Paulo tem duas maçãs a mais que Pedro, Pedro tem duas vezes mais maçãs que João. João tem tantas maçãs quanto Ana e Francisco juntos... Quantas maçãs tem Pedro?" Baseando-nos em nosso saber disponível sobre as regras aritméticas, procuramos ordenar as informações, submetê-las a uma concatenação lógica e chegar, dessa maneira, ao resultado correto. Segundo Guilford, em primeira linha os testes de QI exigem pensamento convergente. Afinal sempre se trata de procurar, com auxílio da lógica, uma solução ortodoxa que se possa classificar como certa ou errada, de modo claro.
No entanto, pessoas criativas destacam-se sobretudo porque seu intelecto, ao confrontar-se com um problema, supera os esquemas mentais já arraigados e trilha novos caminhos. Guilford definia a criatividade justamente como a capacidade de "encontrar respostas inusitadas, às quais se chega por associações muito amplas". E aqui entra em cena o pensamento divergente, com a finalidade de produzir diversas soluções possíveis. "No pensamento divergente avança-se para muitos lados. Tão logo seja necessário, ele muda de direção e leva com isso a uma pluralidade de respostas que podem ser, todas elas, corretas e adequadas", explicou em 1950.
Ao mesmo tempo, Guilford procurou estabelecer a capacidade de pensamento divergente no âmbito dos testes psicológicos. A busca de um quociente de criatividade mensurável de maneira inequívoca, semelhante ao QI, não teve êxito até hoje. E embora tenham surgido alguns procedimentos desde então, como o Torrance Test of Creative Thinking (v. fig. 1), no fundo ainda depende muito do julgamento pessoal do observador a decisão sobre qual a mais criativa, entre diversas possibilidades de solução em um caso específico.
Idéias borbulhando
Sobre o conceito de pensamento divergente, que ainda continua sendo bastante nebuloso, os especialistas definiram até hoje pelo menos seis traços característicos:
· Fluência de idéias: aspecto quantitativo da criatividade, ou seja, quantas idéias e associações ocorrem para determinada pessoa, por exemplo quando se apresenta a ela um novo conceito.
Pluralidade, flexibilidade: o critério aqui é encontrar o maior número possível de soluções diferentes.
Originalidade: aspecto qualitativo da idéia, ou seja, a capacidade de desenvolver possibilidades de solução peculiares, às quais nem todos podem chegar.
Elaboração: define o talento de formular uma idéia e continuar desenvolvendo-a até que se torne solução concreta para um problema.
Sensibilidade para problemas: capacidade de perceber uma tarefa como tal e ao mesmo tempo identificar as dificuldades associadas a ela.
Redefinição: dom de perceber questões conhecidas sob um novo viés. A decomposição de um problema sob aspectos parciais muitas vezes ajuda a ver as coisas sob uma luz totalmente nova.
O modelo de Guilford logo cativou alguns pesquisadores. Os neurocientistas eram movidos sobretudo pela seguinte questão: se o cérebro domina duas maneiras tão diferentes de pensar, não se deveria supor então que elas ocorrem em regiões distintas? Caberia sobretudo às experiências de Roger Sperry revolucionar o setor - embora o biopsicólogo não estivesse investigando a origem da criatividade. Em seu laboratório no Instituto de Tecnologia da Califórnia, Estados Unidos, Sperry trabalhava com os chamados pacientes split-brain. Essas pessoas, por sofrerem de epilepsia grave, sem possibilidade de tratamento medicamentoso, passaram por uma intervenção cirúrgica para separar-lhes o corpo caloso, estrutura que liga os dois hemisférios cerebrais. Essa é a maneira encontrada para se evitar que descargas nervosas incontroladas, durante um ataque epiléptico, se irradiem por todo o cérebro.
Divisão do trabalho no cérebro
Ao lado de Michael Gazzaniga, Sperry submeteu esses pacientes a uma série de experimentos. Com eles, fez uma descoberta inovadora, que lhe rendeu o Prêmio Nobel de Medicina de 1981: os hemisférios cerebrais esquerdo e direito não processam as mesmas informações, mas dividem as tarefas entre si. O lado esquerdo é responsável, em especial, por todos os aspectos da comunicação. Processa o que se ouve, e também as informações escritas e a linguagem corporal. O direito, por sua vez, ocupa-se do material não-verbal, processando imagens, melodias, entonações, modelos complexos como expressões faciais, por exemplo, bem como informações sobre o espaço e a posição do próprio corpo.
"One brain, two minds" - as diferenças funcionais entre os hemisférios cerebrais, praticamente idênticos na aparência externa, ocupam neurocientistas e psicólogos cognitivos até hoje. Principalmente as pesquisas com pacientes de ataques apopléctico confirmam essa dicotomia. Assim, danos do hemisfério esquerdo ocasionam em primeira linha problemas com a linguagem. Se o ataque acomete o lado direito do cérebro, a linguagem permanece intacta, mas perde-se o esquema corporal e a orientação espacial. A percepção musical também é atingida. Além disso, os pacientes têm clara diminuição de suas aptidões criativas em áreas como pintura, poesia ou música - e até mesmo o talento para jogar xadrez é prejudicado.
Em muitos outros experimentos firmou-se mais e mais a constatação de que realmente há duas partes distintas do cérebro, responsáveis cada uma delas por uma das duas formas de pensamento propagadas por Guilford. Conforme revelaram os experimentos, o hemisfério esquerdo responde pelos processos de pensamento convergentes. Trabalha de maneira lógica, analítica, racional e se volta aos detalhes. Em compensação, falta-lhe a visão dos nexos abstratos de ordem mais geral. O pensamento divergente, por outro lado, é o forte do lado oposto. O hemisfério direito é mais intuitivo, pode fantasiar, ter idéias repentinas; privilegia uma forma de trabalho holística e é capaz de concatenar as peças do mosaico de informações que chegam.
Mais que meras letras
Suponha que você esteja lendo um poema de Goethe. O hemisfério esquerdo analisa a seqüência de letras, compõem-nas de modo que formem palavras e frases segundo as regras lógicas da linguagem escrita, averigua se a gramática e a sintaxe resultam sensatas, e apreende o conteúdo concreto. Mas é apenas o direito que fará do poema mais que uma mera sucessão de letras, conceitos e sentenças. Ele integra as informações a idéias e noções próprias, faz surgir imagens na mente, reconhece o significado metafórico mais geral.
Curiosidade, prazer de experimentar, ludicidade, coragem de correr riscos, flexibilidade intelectual, pensamento metafórico e senso artístico desempenham papel decisivo nos processos criativos do pensamento. Para a maioria dos neurocientistas, o ser humano dispõe dessas capacidades graças a qualidades especiais de seu hemisfério direito.
Mas se todos temos um hemisfério direito, e portanto as condições básicas para fazer brotar idéias não ortodoxas sem parar, por que a criatividade é um bem tão raro e requisitado? Ora, talvez porque seja melhor dizer que detínhamos essas condições! Na infância a força criadora praticamente não tem limites. É só mexer um pouco aqui, misturar muita fantasia e imaginação, e pronto: a mesa da sala e a velha toalha transformam-se - vapt, vupt - em um castelo, o aspirador vira um cavalo, e a colher de pau uma espada. Educadores não cansam de criticar que já nas primeiras séries se dê grande valor à solução correta das tarefas, mas nem tanto a soluções criativas. A sociedade moderna, preocupada com resultados, exige especialmente as qualidades da metade esquerda do cérebro, ou seja, pensamento lógico orientado a um fim, habilidades matemáticas e talento para línguas.
Com o tempo parecemos internalizar cada vez mais essa maneira de agir - às custas do potencial criativo. Pois o cérebro acostuma-se; e diante de um problema prefere recorrer ao que já conhece, em vez de trilhar caminhos novos ou menos conhecidos. Por não treinarmos nossa capacidade criativa, nosso espírito criativo vai ficando inerte, dificultando a superação de bloqueios no pensamento. Michael Michalko, um dos mais importantes treinadores de critatividade nos Estados Unidos, certa vez formulou a questão da seguinte maneira: "Quando só se pensa como sempre se pensou, só se vai manter o que sempre se manteve - as mesmas velhas idéias."
Se no meu caso não acontecem lampejos geniais, isso talvez ocorra porque meu hemisfério esquerdo, aferido segundo a lógica, não deixa funcionar a máquina de criatividade que se encontra do outro lado. Recentemente, Bruce L. Miller, da Universidade da Califórnia, em San Francisco, constatou que a demência frontal-temporal danifica seletivamente os neurônios dos lóbulos frontal e temporal - ou seja, regiões cerebrais que controlam, além da linguagem, também o comportamento social. Em decorrência disso, os pacientes com essa rara forma de demência apresentam déficit cognitivo, perda de memória, e sofrem a redução de suas capacidades no convívio social. Tornam-se introvertidos, comportam-se de maneira estereotipada e quase não têm barreiras quando se trata de ferir normas sociais. Em contrapartida, suas forças criativas parecem desenvolver-se de uma maneira muito mais desimpedida, como se somente a doença permitisse que se libertassem dos grilhões formais de sua formação.
"O último lugar em que se esperam encontrar quaisquer aptidões desabrochando é o cérebro de alguém cujas capacidades intelectuais estão se esvaindo por causa de uma demência", surpreende-se. Mas neurocientista identificou pacientes que, sofrendo de demência frontotemporal, desenvolveram um talento artístico surpreendente - e isso, no caso de muitos, mesmo que nunca tivessem se interessado por questões artísticas.
Com auxílio de procedimentos por imagem, Miller constatou que também nesses pacientes a perda de células nervosas atingia em primeira linha o lado esquerdo do cérebro, tornando-os progressivamente anti-sociais. "Foi apenas com a perda das coerções sociais e com o crescente desprendimento que essas aptidões adormecidas puderam se desenvolver", explica, para em seguida traçar um paralelo com gênios criativos como van Gogh ou Goya, que ignoraram normas sociais para viver de maneira plena suas idéias criadoras não ortodoxas, contrariando as convenções de sua época. A capacidade de simplesmente ultrapassar limitações sociais e cognitivas seria assim uma qualidade típica de grandes artistas.
Mas engana-se quem pensa ser seu hemisfério esquerdo o único impedimento para que afinal possa vir à tona o gênio latente em si mesmo. Embora as idéias novas borbulhem predominantemente ao lado direito, nem toda idéia inovadora é necessariamente boa. Pelo contrário, não é raro que lampejos intuitivos simplesmente passem ao largo do problema proposto ou sejam mesmo malucos e nada mais.
As conquistas criadoras e significativas destacam-se por serem úteis, relevantes ou eficazes. Elas têm que convencer as pessoas. Assim como a lâmpada de Thomas Edison. De acordo com esse critério, todo lampejo intelectual deveria ser considerado segundo sua utilidade. Para isso convergem diferentes normas e valores, que decidem se uma idéia nova deve sucumbir à censura crítica. E durante essa fase de avaliação do processo criativo do pensamento quem toma as rédeas é o lado esquerdo do cérebro - pois agora entra em cena o pensamento lógico. "O cérebro esquerdo mantém o direito na linha", é como descreve a situação Ned Herrmann, autor do livro "The Creative Brain" [O cérebro criativo]. Somente o lado esquerdo, com uma atividade estritamente racional, torna possível ao produtor de idéias analisar se seu insight pouco ortodoxo, vindo do hemisfério direito, realmente contribui para a solução do problema. Por isso, segundo ele, a criatividade sempre tem a ver com o cérebro todo.
Lampejos fundamentados
No âmbito de uma ruptura criativa recorre-se ao pensamento convergente, o que demanda participação do hemisfério esquerdo. Assim como um relâmpago, tampouco o lampejo intelectual poderia vir de um céu sem nuvens: ele baseia-se sobre um sólido conhecimento objetivo. Em geral, espíritos criativos são especialistas em determinada área. Embora não seja impossível, é muito improvável que se chegue a uma idéia grandiosa sem ter se ocupado intensivamente da respectiva área. Mesmo Einstein trabalhou anos a fio na teoria da relatividade antes de chegar a sua tirada de gênio E=mc2. Thomas Edison, até hoje recordista máximo em número de invenções, com 1093 patentes registradas, chegou ao ponto de maneira muito sensata: "Gênio quer dizer 1% de inspiração e 99% de transpiração."
O intelecto em viagem de descobrimento
Com isso Edison descreve uma característica essencial da fase de preparação: ela é desgastante e pode tomar muito tempo. Isso leva muitas pessoas a fracassar em sua busca de boas idéias inovadoras. Identificado o problema, é preciso confrontar-se com ele e iluminá-lo a partir de todos os ângulos conhecidos e também de novos e desconhecidos. Pois um segredo da criatividade consiste em mudar a perspectiva e considerar as coisas sob uma nova luz. É nesse ponto que as técnicas de desenvolvimento da criatividade procuram centrar-se. Diante disso, não faz sentido enfocar em demasia a solução. O processo todo deveria assemelhar-se a uma viagem de descobrimento que pudesse levar a todas as direções possíveis. E aqui entra em jogo mais uma vez os conhecimentos sólidos de base, já que soluções novas surgem à medida que sempre reordenamos idéias, noções e intuições existentes, como peças de um jogo de montar.
Também o pesquisador da criatividade Steven M. Smith acentua a importância da combinação de idéias no pensamento criativo. Segundo ele, as maiores perspectivas de sucesso estão com quem estabelece ligações entre áreas completamente diversas. Pessoas particularmente inventivas têm o dom de relacionar coisas entre si, mesmo que à primeira vista não haja qualquer nexo entre elas. Mas quanto mais se souber, mais fácil será desenvolver soluções criativas.
Nesse contexto, Shelley Carson, da Universidade de Harvard, fez uma descoberta interessante. Pesquisou 25 estudantes que se distinguiram por apresentar resultados criativos extraordinários. Segundo constatou, no cérebro dessas pessoas a assim chamada inibição latente tem cunho visivelmente mais fraco que nos colegas menos criativos. Esse mecanismo cognitivo cumpre no órgão do pensamento uma espécie de função de filtração. Por meio da inibição latente são apagadas da grande desordem de dados que flui a cada segundo para nosso sistema sensorial as informações que segundo a experiência parecem-nos menos importantes. E esse apagamento se dá antes mesmo de que as informações cheguem a nossa consciência.
Assim, elas não oneram a capacidade do cérebro, mas tampouco ingressam nos processos do pensamento. Ora, como a criatividade é a capacidade de ligar frações de dados esparsas, e então concatená-las de modo a formarem algo novo, uma inibição latente menos pronunciada ajuda o espírito inventivo a dar saltos maiores. Com a inibição menor, o cérebro criador recebe uma quantidade maior de material para processar.
Olhar para além do próprio umbigo
No entanto, mesmo quem não foi agraciado por uma inibição mais tênue angaria vantagens na procura por lampejos intelectuais quando se dedica a compilar o maior número possível de idéias e impressões. E ao fazê-lo cada um deveria, sem falta, preocupar-se com olhar para além das fronteiras de sua própria área de atuação, rumo a mundos diversos. Pois o excesso de conhecimento especializado não deve impedir o caminho da criação inventiva.
Via de regra a criatividade não sabe lidar com pressão. É por isso que muitos achados geniais nasceram também fora dos laboratórios - em situações que nada têm a ver com o trabalho. Arquimedes estava deitado na banheira quando lhe ocorreu a lei do empuxo e ele bradou seu famoso "Heureka!". August Kekulé sonhava com serpentes que mordiam o próprio rabo. A grande descoberta ele fez no dia seguinte: a estrutura química do benzol tinha que ser aneliforme.
Lampejos intelectuais criativos ocorrem para a maioria das pessoas em situações nas quais elas estão justamente pensando em algo totalmente diverso: nas férias, no passeio de domingo ou antes de adormecer. Esse fenômeno tem uma explicação: desde que o cérebro tenha sido alimentado corretamente na fase de preparação, é notório que continua trabalhando em uma solução, mesmo quando nos afastamos do problema por algum tempo. Esse processo que antecede a descoberta inusitada se denomina incubação.
Estudiosos da criatividade supõem que nessa fase atenuam-se as ligações associativas entre idéias e noções presentes na memória, as quais são sobrecarregadas e alteradas por outras informações que chegam nesse entremeio. Portanto, um pouco de descontração e distância temporal transformam o olhar que incide sobre o problema, sem que esse processo se torne consciente; assim, garantem-se discernimentos alternativos e criam-se as condições para uma nova tentativa de solução, talvez mais criativa.
Dessa maneira, segundo Steven M. Smith, nosso cérebro poderia superar as barreiras de pensamento, durante a fase de incubação. Em um momento qualquer, novas associações irrompem e o espírito criativo finalmente recebe a tão esperada recompensa: a iluminação, o conhecimento intuitivo e repentino: "É isso!" Segundo o modelo de fases do pensamento criativo, o cérebro é praticamente obrigado a nos agraciar com esse momento de revelação - desde que haja uma fase de preparação adequada e, na seqüência, uma fase de incubação.
Fica uma pedra no caminho: os processos que se cumprem durante a fase de incubação permanecem ocultos à nossa consciência, portanto não podem ser influenciados nem acelerados de maneira ativa. Por isso, mesmo quem tem o mais criativo dos espíritos precisa às vezes exercitar-se em uma determinada arte: a paciência.
Dicas para o pensamento criativo
Descobrir e espantar-se: Procure todos os dias encontrar algo que lhe cause admiração. Pessoas especialmente criativas conservam por toda vida espírito investigativo e curiosidade infantil. Diante disso, é importante questionar até os conhecimentos que parecem seguros. Anotando o que lhe pareceu inusitado e estranho, você poderá fortalecer sua percepção.
Motivação: Nem todo tema ou atividade entusiasmam as pessoas na mesma medida. No pensamento criativo a motivação precisa estar em ordem, já que é preciso fazer alguns esforços. A inspiração aparece sobretudo quando uma área prende muito a atenção. Fundamente o que realmente quer fazer. Assim que sentir uma centelha de interesse, siga a pista. E se algo não o motiva, melhor manter a distância.
Coragem e liberdade de pensamento: Rotina e formas de pensar estanques integram o time de arquiinimigos da criatividade. Frases como "Mas sempre fizemos assim..." acabam de vez com a motivação. Os princípios também podem tornar-se barreiras ao pensamento. A criatividade exige a coragem de suplantar proibições ao pensamento e de olhar mais de perto idéias que em princípio parecem despropositadas - isso tudo sob o signo do inconformismo.
Tranqüilidade e descontração: Embora pessoas criativas sejam freqüentemente ativas, raramente são agitadas. Reserve um pouco de tempo para sonhar acordado e refletir, aí podem vir as melhores idéias. Procure oportunidades para relaxar e aproveite-as de maneira consciente. Pressão é algo que bloqueia a atividade criativa. Quem está à procura de uma idéia e para encontrá-la martiriza o próprio cérebro logo acaba levando o próprio pensamento a um beco sem saída.
Para conhecer mais
Decreased Latent Inhibition is Associated with Increased Creative Achievement in High-Functioning Individuals, S. Carson et al., em Journal of Personality and Social Psychology 85 (3), 2003, p. 499-506.
Creativity and the Mind: Discovering the Genius Within. T. Ward, S. Smith, R. Finke. Perseus Publishing, 1995
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