Psicologia Social
Espiritualidade

Psicologia Social



Os historiadores costumam afirmar que a única maneira de entendermos o presente e
planejarmos o futuro é conhecendo o passado. No entanto, conhecer o passado não é uma tarefa fácil, principalmente quando falamos da Psicologia e, em especial, da Psicologia Social. Entre as dificuldades envolvidas nessa tarefa podemos citar, por exemplo, aquelas ligadas à sua fundação. Dependendo da perspectiva adotada, ela pode ser atribuída a Émile Durkheim, a Wilhem Wundt, a Floyd Allport, a William McDougall, a Edward Ross, só para citar alguns psicólogos sociais amplamente reconhecidos. Embora cada um deles tenha se dedicado ao estudo do comportamento social, cada um deles o fez a sua maneira. Um olhar mais apurado a respeito desse aspecto demonstrará que no cerne deste problema encontra-se a questão do tipo de explicação mais adequado ao comportamento humano. De forma resumida, podemos dizer que esse debate tem tomado a forma de dualismos, como por exemplo, subjetividade-objetividade, natureza-cultura, explicação-compreensão etc. Neste debate, escolher um pólo dos dualismos significa necessariamente negar a relevância ou poder heurístico do outro.
É verdade que as origens dessa visão dicotômica da psicologia social são muito remotas e suas origens remontam às obras de Platão e Aristóteles e suas visões conflitantes a respeito do homem. Na contemporaneidade, essas concepções corresponderiam aos questionamentos acerca das relações entre o público e o privado ou entre o social e o individual. A adoção de uma dessas posições conduz a explicações mais centradas no meio social ou mais centradas nos indivíduos. No entanto, como refere Wilhem Doise (1982), não é necessário assumir uma posição ou escolha neste campo dilemático. Mesmo porque, assumir uma posição frente a estas dicotomias implica, de algum modo, na sua validação. Nessa perspectiva, definida pelo autor como societal, o campo específico da psicologia social é o campo da articulação de níveis de análise, desde o intra-psíquico até o ideológico.
No Brasil, esse debate se revestiu de um caráter profundamente relacionado com tomadas de posições políticas. O que produziu uma psicologia social crítica e comprometida com as lutas sociais e, ao mesmo tempo, um tanto quanto maniqueísta e dicotomizada, sobretudo no que se refere aos aportes metodológicos. A este respeito, vale lembrar que a psicologia social começa a se desenvolver aqui por volta dos anos 60 do século XX, época das ditaduras militares latino-americanas. Junte-se a esse momento político o fato que, nas suas origens, a psicologia social latino-americana sofreu uma grande influência dos psicólogos norte-americanos. É nesse contexto, que começa a surgir no continente sul americano a proposta de uma psicologia social fortemente engajada com as mudanças sociais, que seriam resultantes do empoderamento das classes populares.
As críticas feitas por esse movimento à psicologia social norte-americana podem ser resumidas na sua visão mecanicista e positivista de homem e na pouca relevância social dos temas estudados. Por outro lado, os psicólogos latino-americanos começavam a ter contato com as idéias de Leontiev, Luria e Vygotsky cujas visões meta-teórica se fundamentavam no materialismo histórico-dialético.
Hoje, passados quase quarenta anos, podemos dizer que esse debate ainda está presente na psicologia social brasileira. É claro que, na atualidade, ele se reveste de novos discursos, mas podemos perceber que ele se centra em duas concepções meta- teóricas de psicologia social.
A primeira dessas concepções tem como ponto de partida o lugar central ocupado pelo indivíduo e seus processos intra-psíquicos para a explicação dos fenômenos sociais. Essa concepção, denominada na atualidade de psicologia social psicológica, coloca a psicologia social como um ramo da psicologia geral. A segunda, denominada de psicologia social sociológica, tem suas origens no pensamento psicossocial presente na sociologia, e preconiza como objeto de estudo da psicologia social o “social”. Dito em outros temos, na primeira, o social seria o adjetivo e na segunda, o social seria o próprio substantivo.
É claro que essa divisão é simplista, pois as diferenças entre as duas visões de psicologia social possuem muitos outros matizes, principalmente aqueles relacionados aos aspectos metodológicos.
E particularmente, no Brasil, esse debate se reveste de algumas características bastante peculiares. Assim, por exemplo, temos uma psicologia social fortemente engajada com os movimentos sociais, o que a aproximaria de uma psicologia social sociológica, mas que privilegia os aspectos da psiquê individual na explicação dos fenômenos sociais, o que a coloca muito mais próxima de uma psicologia social psicológica.
Além disso, no Brasil, esse debate centrou-se noutra falsa dicotomia entre metodologias e procedimentos quantitativos versus metodologias e procedimentos qualitativos. Nesta visão, a psicologia social realmente engajada só faria uso dos segundos; uma vez que estes não implicariam um “assujeitamento” dos atores sociais, dos discursos e narrativas que os constituem, a moldes, formatações ou escalonamentos que essencializariam, naturalizariam e mesmo legitimariam as construções sociais. No outro extremo, mas ainda no campo da metodolatria, estariam aqueles que defendem a quantificação e consideram as pesquisas ‘qualitativas como frouxas metodologicamente e sem validade (Bauer & Gaskell, 2004).

A psicologia social surgiu no século XX como uma área de aplicação da psicologia para estabelecer uma ponte entre a psicologia e as ciências sociais (sociologia, antropologia, etnologia). Sua formação acompanhou os movimentos ideológicos e conflitos do século, a ascensão do nazi-fascismo, as grandes guerras, a luta do capitalismo contra o socialismo, etc. O seu objeto de estudo é o comportamento dos indivíduos quando estão em interação, o que ainda hoje, é controverso e aparentemente redundante pois como se diz desde muito: o homem é um animal social.
Mesmo antes de estabelecer-se como psicologia social as questões sobre o que é inato e o que é adquirido no homem permeavam a filosofia mais especificamente como questões sobre a relação entre o indivíduo e a sociedade, (pré-científicas segundo alguns autores) avaliando como as disposições psicológicas individuais produzem as instituições sociais ou como as condições sociais influem o comportamento dos indivíduos. Segundo Jean Piaget (1970) é tarefa dessa disciplina conhecer o patrimônio psicológico hereditário da espécie e investigar a natureza e extensão das influencia sociais.
Enquanto área de aplicação distingue-se por tomar como objetos as massas ou multidões associada à prática jurídica de legislar sobre os processos fenômenos coletivos como linchamento, racismo, homofobia, fanatismo, terrorismo ou utilização por profissionais do marketing e propaganda (inclusive política) e associada aos especialistas em dinâmica de grupo e instituições atuando nas empresas, coletividades ou mesmo na clínica (terapia de grupos). Nessa perspectiva poderemos estabelecer uma sinonímia ou equivalência entre as diversas psicologias que nos apresentam como sociais: comunitária, institucional, dos povos (etnopsicologia) das multidões, dos grupos, comparada (incluindo a sociobiologia), etc.
Segundo Aroldo Rodrigues, um dos primeiros psicólogos brasileiros a escrever sobre o tema, a psicologia social é uma ciência básica que tem como objeto o estudo das "manifestações comportamentais suscitadas pela interação de uma pessoa com outras pessoas, ou pela mera expectativa de tal interação". A influência dos fatores situacionais no comportamento do indivíduo frente aos estímulos sociais. (Rodrigues , 1981)
O que precisa ser esclarecido para entender a relação do “social” com a psicologia, quer concebida como ciência da mente (psique) quer como ciência do comportamento é como esse “social” pode ser pensado e compreendido desde o caráter assistencialista ou gestão racional da indigência na idade média até emergência das concepções democráticas ciências humanas no século XX passando pela formulação das questões sociais em especial os ideais de liberdade e igualdade no século das luzes e os direitos humanos.

Uma das principais características da psicologia social contemporânea é a ausência de modelos teóricos unificadores e o conseqüente predomínio das teorias de curto e médio alcance. Praticamente inevitável, se analisado á luz da intensa especialização teórica, conceitual e metodológica que se observa em todos os ramos da psicologia, tal situação gera uma série de dificuldades para o entendimento do que vem a ser a psicologia social. Trata-se de uma disciplina de natureza nomotética, onde a dimensão empírica e a metodologia experimental dominam ou seria a psicologia social uma disciplina de cunho emancipatório, na qual os métodos idiográficos e metodologia qualitativa predominam? Teríamos de fato três psicologias sociais, uma individualista e experimental, uma holista e sociológica e uma terceira, fundamentada nos princípios do interacionismo simbólico? Ou o critério de diferenciação da psicologia social deveria ser geográfico, de forma que teríamos uma psicologia anglo-americana, uma psicologia social européia e uma psicologia social latino-americana?

Inevitavelmente o professor ou o estudioso da psicologia social se obriga – ou é obrigado – a refletir sobre o assunto. A obra Psicologia Social. Perspectivas Psicológicas e Sociológicas, de autoria de dois cientistas sociais espanhóis, José Luis Álvaro e Alicia Garrido (São Paulo: McGraw-Hill, 2007, 414 páginas) certamente constitui um volume indispensável para ajudar a refletir sobre as questões anteriormente esboçadas. Trata-se de uma obra abrangente, que nas suas mais de quinhentas páginas oferece um panorama consistente e sistemático dos principais desenvolvimentos teóricos e metodológicos da psicologia social ao longo do desenvolvimento histórico da disciplina.

Sob o ponto de vista formal, a ordem cronológica organiza a apresentação das várias teorias comentadas nos diversos capítulos. O capítulo 1, referente aos antecessores da psicologia social na segunda metade do século XIX, dedica-se à apresentação e discussão do desenvolvimento das idéias psicossociológicas na Franca (Émile Durkheim, Gabriel Tarde e Gustave Le Bon), na Alemanha (Wilhelm Wundt, Wilhelm Dilthey e Karl Marx), na Inglaterra (Herbert Spencer) e nos Estados Unidos (William James e John Dewey). Tomando como ponto de partida os princípios do positivismo, Álvaro e Garrido discutem a tese da unidade da ciência e avaliam como tal tese repercutiu, e ainda repercute, na psicologia social contemporânea e ao mesmo tempo apontam para um paradoxo que a psicologia social enfrenta desde a sua origem: ao mesmo tempo em que surge numa época em que estava em voga a busca por princípios unificadores da ciência, os seus princípios surgem em tantos lugares distintos e seus postulados são diferentes entre si que não se pode nem mesmo falar de um mito de fundação ou de uma origem única para a psicologia social. Desde a própria origem, a psicologia social será marcada pela pluralidade e tal pluralidade irá acompanhar e determinar os passos de todo o seu desenvolvimento posterior.

O capítulo 2 analisa de forma aprofundada a consolidação da psicologia como uma disciplina independente nas primeiras décadas do século XX. As duas primeiras seções do capítulo são dedicadas à discussão de como a psicologia social conseguiu se diferenciar e se tornar autônoma em relação às duas disciplinas que lhes serviram de matrizes: a psicologia e a sociologia. Essa dualidade na origem marca a consolidação e o desenvolvimento posterior da psicologia social, seja sob o ponto de vista teórico e conceitual, seja sob o ponto de vista metodológico. No que concerne às contribuições da psicologia, observa-se que praticamente todos os sistemas psicológicos do início do século XX sugeriam alguma forma de conceber a psicologia social: a teoria do campo psicofísico da psicologia da Gestalt irá repercutir de forma significativa na obra de Kurt Lewin; o comportamentalismo de J. B. Watson atualizar-se-á na psicologia social de Floyd Allport; as idéias de base psicanalítica de Sigmund Freud e discípulos exercerão um forte impacto em teorias como as da personalidade autoritária e na hipótese da frustração-agressão. A diferenciação da psicologia social no âmbito da sociologia é analisada em termos das contribuições de autores como Edward Ross, Max Weber, Georg Simmel e George Herbert Mead. A seção final do capítulo é dedicada a apresentação das diferenças de natureza metodológica entre a psicologia social oriunda da psicologia – assentada quase que exclusivamente em técnicas experimentais – e a psicologia social de base sociológica, centrada em uma dimensão metodológica mais eclética e pluralista.

Os capítulos 3 e 4 são dedicados à análise da evolução da psicologia social como um campo independente de investigações entre os anos 30 e 70 do século XX. Os fundamentos para a discussão das diversas perspectivas teóricas da psicologia social foram os problemas de natureza epistemológicos suscitados pelo movimento do positivismo lógico do Círculo de Viena e pela sociologia do conhecimento de Karl Mannheim. No terceiro capítulo são discutidas teorias eminentemente psicossociais, como as de Kurt Lewin, e teorias que apontam para o impacto dos processos cognitivos na investigação do comportamento social, tais como as de Frederic Bartlett e Lev Vygotski, além de teorias de origem sociológica, como, por exemplo, o interacionismo simbólico, o funcionalismo estrutural de Talcott Parsons e a escola de Frankfurt. O quarto capítulo é dedicado a análise de algumas teorias mais recentes. A influência da psicologia da gestalt na psicologia pode ser facilmente referida, a considerar a sua influência em teorias como a de Fritz Heider, Solomon Asch, Leon Festinger, Stanley Milgram e Muzafer Sherif. Ainda na vertente psicológica, são analisadas as influências da psicologia comportamental sobre as obras de Carl Hovland, Robert Zajonc, John Thibaut e Harold Kelley. Em contrapartida, as contribuições de autores como George Homans, Peter Blau, Herbert Blumer, Erving Goffman e Alfred Shultz, assim como a da etnometodologia de Harold Garfinkel, foram recenseadas sobre a ótica das influências das teorias sociológicas sobre a psicologia social.

O quinto e último capítulo, que se inicia a partir de uma breve, mas bem conduzida, reflexão sobre as mudanças na concepção de ciência que influenciaram a psicologia social desde os anos 70, apresenta, em mais de 130 páginas, uma análise cuidadosa das principais vertentes da psicologia social contemporânea. Trata-se de um recenseamento exaustivo, onde os princípios e fundamentos de muitas teorias de origem européias, freqüentemente desprezadas pelos manuais tradicionais da psicologia, são apresentados com um certo grau de detalhamento. Assim, teorias mais específicas, como as da atribuição da causalidade ou a da categorização social e relações intergrupais da Universidade de Bristol, ou modelos mais abrangentes, como os da cognição social ou o das representações sociais, são apresentados e discutidos de forma relativamente aprofundada. Além disso, teorias fora da corrente principal da psicologia social psicológica, tais como o construcionismo social de Kenneth Gergen, o enfoque etogênico de Rom Harré e o modelo retórico de Michael Billig, têm os seus fundamentos apreciados. Por outro lado, teorias que exercem um forte impacto na psicologia social sociológica contemporânea, como a teoria da ação estrutural de Sheldon Stryker, a teoria da estruturação de Anthony Giddens, a sociologia figurativa de Norbert Elias e o construtivismo estruturalista de Pierre Bourdieau têm os seus fundamentos apresentados e discutidos em uma seção inteiramente dedica às vertentes sociológicas da psicologia social.

Ainda sob o aspecto formal, o livro apresenta pequenas resenhas acerca da vida e obra de 40 teóricos de destaque na psicologia social e é acompanhada por 50 páginas de referências bibliográficas, onde se encontram arrolados trabalhos clássicos e contemporâneos de leitura obrigatória para o psicólogo social.

Como pode ser depreendido da leitura desta resenha, o volume escrito por Álvaro e Garrido vem preencher uma importante lacuna na literatura psicossocial acessível aos leitores brasileiros, pois se trata de um livro que apresenta de uma forma abrangente – mas aprofundada – as principais teorias contemporâneas, discute as bases epistemológicas e históricas que as deram origem e avalia criticamente as contribuições destas teorias para o desenvolvimento da psicologia social.

Psicologia Social no Brasil

A psicologia social no Brasil tem início nos estudos etnopsicológicos de Nina Rodrigues em 1900, O animismo feitichista dos negros africanos e As coletividades anormais, ou melhor, como coloca Laplantine (1998) nos estudos que revelam o confronto entre a etnografia e a psicologia. Materiais etnográficos recolhidos a partir de observações muito precisas são interpretados no âmbito da psicologia clínica da época. Nina Rodrigues considera os problemas da integração das populações européias às advindas da diáspora africana que segundo ele constituem o principal obstáculo para o progresso da sociedade global.
Muitos autores brasileiros seguiram essa linha de raciocínio que oscilava entre os pressupostos biológicos racistas da degenerescência racial, uma interpretação psicológica (instabilidade do caráter resultante do choque de duas culturas) até as modernas interpretações sociológicas iniciadas a partir de 1923 com os estudos de Gilberto Freyre autor do reconhecido internacionalmente Casa grande e senzala.
Com o título de Psicologia Social vamos encontrar o trabalho de Arthur Ramos (1903-1949) foi o professor convidado para ministrar o curso de psicologia social na recém criada Universidade do Distrito Federal no Rio de Janeiro (1935) e logo desfeita pelo contexto político da época. Não fugiu a clássica abordagem do estudo simultâneo das inter-relações psicológicas dos indivíduos na vida social e a influência dos grupos na personalidade mas face a sua experiências anteriores nos serviços de medicina legal e médico de hospital psiquiátrico na Bahia tinha em mente os problemas da inter-relação de culturas e saúde mental (com atenção especial aos aspectos místicos - primitivos da psicose) retomando-os a partir das proposições da psicanálise e psicologia social americana situando-se criticamente entre as tendências de uma sociologia psicológica e uma psicologia cultural.
Nas últimas décadas a psicologia social brasileira, segundo Hiran Pinel (2005), foi marcada por dois psicólogos bastante antagônicos: Aroldo Rodrigues (empirismo e que adotou uma abordagem mais de experimental-cognitiva, por exemplo, de propagandas etc.) e, mais recentemente Silvia Lane (marxista e sócio-histórica).
Silvia Tatiana Maurer Lane e Aniela Ginsberg foram professoras fundadoras do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Social da PUC-SP o primeiro curso de mestrado e doutorado da área a funcionar no Brasil, entre 1972 e 1983. Onde psicologia social é uma disciplina (teórica/prática) referendada em pesquisas empíricas sobre os problemas sociais brasileiros. Os textos desenvolvidos por professores e autores escolhidos são adotados como bibliografia básica na maioria dos cursos de Psicologia do Brasil e, também, em concursos públicos na área da saúde e educação. Receberam o prêmio outorgado pela Sociedade Interamericana de Psicologia (SIP), em julho de 2001.
Lane fez seguidores famosos e muito estudados na atualidade: Ana Bock e outros (mais ligados a Vigotski), como Bader Sawaia (que descreve minuciosamente as artimanhas da Exclusão social e o quanto é falso e hipócrita a inclusão, encarada como "maquiagem" que cala a voz do oprimido); Wanderley Codo (que estuda grupos minoritários, sofrimentos e as questões de saúde dos professores e professoras); Maria Elizabeth Barros de Barros e Alex Sandro C. Sant'Ana (que se associam as idéias de Foucault, Deleuze, Guattari entre outros); Carlos Eduardo Ferraço (que se associa com Boaventura de Sousa Santos e Michel de Certeau); Hiran Pinel (que resgata tanto o existencialismo quanto o marxismo de Paulo Freire) etc.
O psicólogo bielorrusso Vygotsky - um fervoroso marxista sem perder a qualidade de psicólogo e educador - foi resgatado por Alexander Luria em parceria com Jerome Bruner nos Estados Unidos da América, país que marcou - e marca - a psicologia brasileira. Em 1962 é publicado nos EUA, e após a saída dos militares do governo brasileiro, tornou-se inevitável sua publicação no Brasil.
Os psicólogos sociais sócio-históricos, produzem artigos criticando o Estado e o modo neo-liberal de produção que tem um forte impacto na produção de subjetividades. As práticas são mais ativas e menos desenvolvidas em consultórios, e a noção de psicopatologia mudou bastante, reconhecendo como saudáveis as táticas e estratégias de enfrentamento da classe proletária.

Uma nova Psicologia Social e Institucional

Com uma posição mais crítica em relação à realidade social e à contribuição da ciência para a transformação da sociedade, vem sendo desenvolvida uma nova psicologia social, buscando a superação das limitações apontadas anteriormente,

A psicologia social mantém-se aqui como uma área de conhecimento da psicologia, que procura aprofundar o conhecimento da natureza social do fenômeno psíquico.

O que quer dizer isso?

A subjetividade humana, isto é, esse mundo interno que possuímos e suas expressões, são construídas nas relações sociais, ou seja, surge do contato entre os homens e dos homens com a Natureza.

Assim, a psicologia social, como área de conhecimento, passa a estudar o psiquismo humano, objeto da psicologia, buscando compreender como se dá a construção deste mundo interno a partir das relações sociais vividas pelo homem. O mundo objetivo passa a ser visto, não como fator de influência para o desenvolvimento da subjetividade, mas como fator constitutivo.

Numa concepção como essa, o comportamento deixa de ser "o objeto de estudo", para ser uma das expressões do mundo psíquico e fonte importante de dados para compreensão da subjetividade, pois ele se encontra no nível do empírico e pode ser observado; no entanto, essa nova psicologia social pretende ir além do que é observável, ou seja, além do comportamento, buscando compreender o mundo invisível do homem.

Além disso, essa psicologia social abandona por completo a diferença entre comportamento em situação de interação ou não interação. Aqui o homem é um ser social por natureza. Entende-se aqui cada indivíduo aprende a ser um homem nas relações com os outros homens, quando se apropria da realidade criada pelas gerações anteriores, apropriação essa que se dá pelo manuseio dos instrumentos e aprendizado da cultura humana.

O homem como ser social, como um ser de relações sociais, está em permanente movimento. Estamos sempre nos transformando, apesar de aparentemente nos mantermos iguais. Isso porque nosso mundo interno se alimenta dos conteúdos que vêm do mundo externo e, como nossa relação com esse mundo externo não cessa, estamos sempre como que fazendo a "digestão" desses alimentos e, portanto, sempre em movimento, em processo de transformação.

Ora, se estamos em permanente movimento, não podemos ter um conjunto teórico onde os conceitos paralisam nosso objeto de estudo. Se nos limitarmos a falar das atitudes, da percepção, dos papéis sociais e acreditarmos que com isso compreendemos o homem, não estaremos percebendo que, ao desempenhar esse papel, ao perceber o outro e ao desenvolver ou falar sobre sua atitude, o homem estará em movimento, Por isso, nossa metodologia e nosso corpo teórico devem ser capazes de captar esse homem em movimento e intervir nas políticas públicas que organizam e re-organizam a vida social aumentando ou diminuindo os efeitos da desigualdade social e miséria do mundo.

E, superando esse conceitual da antiga psicologia social, a nova irá propor, como conceitos básicos de análise, a atividade, a consciência e a identidade, modo de vida que são as propriedades ou características essenciais dos homens e expressam o movimento humano. Esses conceitos e concepções foram e vêm sendo desenvolvidos por vários autores soviéticos que produziram até a década de 1960: Silvia Lane e Antônio Ciampa, que são brasileiros e trabalhavam ativamente na PUC-SP. Silvia Lane faleceu em 2006.

Categorias fundamentais da Psicologia Social

A Psicologia Social - é a ciência que procura compreender os “comos” e os “porquês” do comportamento social. A interação social, a interdependência entre os indivíduos e o encontro social. Seu campo de Acção é portanto o comportamento analisado em todos os contextos do processo de influência social. Uma pesquisa nos manuais e ensino e ementas das diversas universidades nos remetem à:
- interação pessoa/pessoa;
- interação pessoa/grupo (os grupos sociais)
- interação grupo/grupo. (enfoques nacionais, regionais e locais)

Estuda as relações interpessoais:
- influências;
- conflitos; comportamento divergente
- autoridade, hierarquias, poder;
- o pai, a mãe e a família em distintos períodos históricos e culturas
- a violência doméstica, contra o idoso, a mulher e a criança

Investiga os factores psicológicos da vida social:
- sistemas motivacionais (instinto);
- estatuto (status) social;
- liderança;
- estereótipos (estigma);
- alienação;
- Identidade, valores éticos;

Teoria das representações sociais, a Produção de Sentido, Hegemonia Dialética Exclusão /Inclusão Social

Analisa os factores sociais da Psicologia Humana
- motivação;
- o processo de socialização
- as atitudes, as mudanças de atitudes;
- opiniões / Ideologia, moral;
- preconceitos;
- papéis sociais
- estilo de vida (way of life - modo ou gênero de vida)

Naturalmente a subdivisão dos temas acima enumerados é apenas didática os mesmos estão intrinsecamente relacionados. Observe-se também que muitos desses temas e conceitos foram desenvolvidos ou são também abordados por outras disciplinas (e inter-disciplinas) científicas seja das ciências sociais ou biológicas, cabe ao pesquisador na sua aproximação do problema ou delineamento da pesquisa estabelecer os limites e marco teórico de sua interpretação de resultados. Pode-se ainda dar um destaque aos temas:

Agressão humana (violência) Trabalho e Ação Social Relações de Gênero, Raça e Idade Psicologia das Classes Sociais – Relações de Poder Psicanálise e questões sócio-políticas Dinâmica dos Movimentos Sociais Saúde mental e justiça: interfaces contemporâneas

A importância para a Psicologia Social no século XXI do estudo empreendido por Nietzsche sobre o ressentimento é teórica e metodológica. É teórica porque ele apresenta claramente o ressentimento como um sintoma social que se desenvolve bastante a partir do século XIX como produto de uma ‘moral cristã’ que surge por volta do ano um d.C. É metodológica porque o estudo do ressentimento traz a idéia de uma Psicologia voltada a uma crítica da verdade via análise dos valores dos valores. Levando em conta que a partir do século XIX os valores morais transformam-se na grande ferramenta de poder internalizada no homem com o intuito de criar e vigiar vidas possíveis, o olhar de uma certa psicologia do ressentimento coloca a moral como uma produção humana e cria a possibilidade de uma análise do homem a partir daquilo que para ele se caracteriza como ‘bem’ ou ‘mau’.

Numa abordagem Psicossocial, as crenças compartilhadas por determinado grupo têm origem em obras filosóficas e nesse aspecto se volta o estudo sobre estereótipos e preconceitos sociais nas diversas experiências e vivências dos grupos. Algumas considerações nortearam esse estudo como a importância dos esquemas e crenças na Psicologia Social, o conceito de cognição social e a inter-relação com estereótipos e preconceitos.

Assim, por intermédio da percepção, as vivências históricas e sócio-culturais se tornam presentes à nossa consciência, gerando a afetividade e as ações que determinada experiência permite ter. A realidade age sobre nós se for apreendida e internalizada. Define-se estereótipo social como crença coletivamente compartilhada acerca de algum atributo, característica ou traço psicológico, moral ou físico atribuído extensivamente a um agrupamento humano, formado mediante a aplicação de um ou mais critérios, como por exemplo, idade, sexo, inteligência, filiação religiosa e outros. Os estereótipos sociais influenciam condutas e comportamentos em interações sociais quando os interatores são enquadrados por essa crença. Do ponto de vista da psicologia, estereótipos podem ser investigados sob aspectos diferentes que vão desde a sua formação até manifestação coletiva.

Estereótipos Sociais

Quando associados a sentimentos, os estereótipos sociais passam a constituir estruturas psicológicas de maior complexidade caracterizadas como atitudes e preconceitos sociais. Assim, a articulação entre estereótipos sociais, favoráveis ou desfavoráveis, e sentimentos, de aceitação ou rejeição, dos grupos humanos visados, produz, na ocorrência combinada de crenças e sentimentos positivos, atitudes sociais que geram o preconceito social e conseqüentemente a discriminação. A discriminação social pode ser praticada particularmente por pessoas consideradas em sua individualidade, contudo ela tende alcançar o estudo de uma norma social implícita ou ser até mesmo uma prática institucionalizada.

Psicologia Social da Saúde

Segundo Maria Luísa Pedroso Lima,
A perspectiva da Psicologia Social da Saúde salienta a importância de um Modelo Biopsicossocial, que não se cinge apenas pelo reconhecimentodo papel activo do indivíduo no processo de resposta à doença, mas realça uma visão integrada desta, incluindo, a par de variáveis psicológicas,factores contextuais de nível relacional, societal e cultural. Em particular, aborda o indivíduo como ser social, que, em interacção com outros, dá sentido ao seu estado de saúde, toma decisões acerca da doença e vive os problemas do seu corpo. Neste sentido, o entendimento que temos da
Psicologia Social da Saúde corresponde ao alargamento de uma visão individual da saúde e da doença para o seu enquadramento mais geral, aproximando-se das abordagens da Psicologia Social e Comunitária.

Esta perspectiva da Psicologia Social da Saúde é recente em termos nacionais e internacionais. Trata-se assim de uma área de pesquisa aplicada e inovadora, que permite responder às necessidades e pedidos dos profissionais da saúde através de um conjunto de saberes que se baseiam em instrumentos teóricos e metodológicos da Psicologia (Social, Comunitária, Clínica e da Saúde) e que contribuem para a resolução de problemas de saúde em diferenciamo-nos das formações existentes noutras universidades, que propõem uma Psicologia da Saúde numa perspectiva individual e muito próxima da perspectiva clínica, e juntamo-nos a profissionais e investigadores
que partilham connosco esta perspectiva, nomeadamente na Université de Provence (DESS de Psychologie Sociale de la Santé) e na London School of Economics (MSc Health, Community and Development).

A psicologia social do trabalho

A psicologia social do trabalho configura o que poderíamos chamar de um "retorno" à psicologia social no que se refere aos estudos sobre o trabalho.
Afastando-se da tradição da Psicologia Industrial/Psicologia Organizacional, cujo principal interesse são os problemas ligados à gestão (interesse marcado por uma forte aproximação em relação à administração), a psicologia social do trabalho é, dito de uma forma simples, uma psicologia social que se dedica a estudar o trabalho.
Pode-se dizer que a psicologia social do trabalho oferece uma alternativa crítica às abordagens tradicionais da psicologia e resgata o que poderíamos chamar de "temas marginais" do trabalho: desemprego, ação política dos trabalhadores, estratégias de sobrevivência, a vida do trabalhador fora do trabalho.

A psicologia social comunitária

A psicologia social comunitária enfatiza que a elaboração de sua teoria e prática se pauta em
valores como ética da solidariedade, resgate dos direitos humanos fundamentais e busca da melhoria da qualidade de vida (Campos, 1999). São centrais, nessa prática, processos de conscientização;
...procura-se trabalhar com os grupos populares para que eles assumam progressivamente seu papel de sujeitos de sua história, conscientes das determinantes sócio-políticas de sua situação e ativos na busca de soluções para os problemas enfrentados. (Campos, 1999, p.11)



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